HUMOR, DISCURSO E SOCIEDADE

Coodenador

  • Rafael Prearo-Lima

Na presente época, as formas de se relacionar e de se comunicar têm sido influenciadas pela tecnologia, especialmente – e principalmente – pelo advento da internet, cujos discursos são atravessados pelo humor. Prova disso é a circulação de discursos com tom cômico e/ou jocoso, observados por meio da ironia, da derrisão, da paródia, do sarcasmo, do uso de trocadilhos etc. em postagens de redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram, nos incontáveis canais com viés humorístico do YouTube, assim como em comentários sobre os mais diferentes assuntos na internet, para citar apenas alguns poucos exemplos. Tal circulação do humor não se restringe ao mundo virtual, nem é exclusiva da contemporaneidade, mas é nesta que se desenvolveu o que Lipovetsky (2000) denomina de sociedade humorística. Como destaca o filósofo francês, o humor produzido na atualmente não é resultado de um ambiente otimista e/ou animador, mas uma tentativa de preencher o vazio social fruto do individualismo característico da hipermodernidade. Apesar de reconhecermos que, paralelamente a esse clima humorístico, há também a forte presença de tom de agressividade nos discursos em circulação em nossa sociedade, concordamos com a afirmação de Freud (1905) de que, muito além de entreter ou de causar prazer no ouvinte (e, por vezes, naquele que o conta), o chiste – e, podemos afirmar, que o humor em geral – permite a liberação de tensões relativas à agressividade. Assim, ao invés de agredir (fisicamente) outra pessoa, conta-se um chiste a fim de liberar as próprias tensões. Nesse sentido, os discursos de humor fomentam, de certo modo, o próprio tom de agressividade de nossa sociedade. Dito isto, este GT tem como objetivo discutir as relações entre os discursos produzidos no humor – entendido aqui com um campo (BOURDIEU, 1996, 2007, 2009), a saber, o campo humorístico (POSSENTI, 2013, 2018) – e sua relação com discursos de outros campos (entre outros, discursos do campo político, do campo religioso, do campo científico, do campo econômico, do campo universitário). Os trabalhos podem abordar diferentes perspectivas discursivas, com preferência para os estudos de Foucault, de Pechêux, de Bakhtin e/ou de Mainguaneau. Acreditamos que tais temáticas contribuem para compreensão de como o campo humorístico atravessa discursos produzidos em outros campos e como, nesse atravessamento, o humor exerce influência na circulação de discursos na sociedade humorística a qual Lipovetsky (2000) se refere.

Submissões encerraram-se em 25 de Julho de 2023 às 23:59