Coordenadores
O presente grupo de trabalho apoia-se na perspectiva de Letramentos Acadêmicos, desenvolvida por Lea e Street (1998), que consideram o ambiente acadêmico a partir de suas nuances socioculturais, nas quais se desenvolvem apropriações identitárias. Esses autores indicam que a expansão universitária, fenômeno que tomou o mundo, sobretudo, a partir da década de 1980, trouxe diferentes perfis, historicamente excluídos do ambiente universitário, revelando as relações de poder que envolvem as visões etnocêntricas na construção daquilo que pode ser chamado de ethos acadêmico. Ao abordar as Práticas Institucionais do Mistério Lillis (1999) explora as práticas sociais que são legitimadas, mas não explicitadas no ensino superior. Tais práticas resultam em relações complexas e combativas entre docentes e discentes, sem o devido reconhecimento dos meandros a partir dos quais a apropriação das identidades no contexto universitário se constroem. Por meio deste entendimento, Street (2010) indica a ineficiência das listas padronizadas que indicam as estruturas de textos acadêmicos, mostrando que compreender suficientemente esse domínio requer trabalhos complexos de (re)escrita dialógica e avaliação crítica e reflexiva. Para Street (2010), as expectativas sobre as produções acadêmicas devem ser negociadas, uma vez que sua avaliação ocorre de forma muito particular, demandando maior engajamento nos caminhos que envolvem a produção e a socialização de textos científicos. Assim, diferentes identidades discursivas são construídas a partir da aquisição de experiências nas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita na esfera acadêmica (IVANIČ, 1998). No contexto brasileiro, alguns autores desenvolvem discussões importantes sobre a temática, dentre eles, Fiad (2015) que indica que os discursos (re)produzidos academicamente não são neutros. Ocupamo-nos das reflexões que indicam o processo de capitalização dos conhecimentos que causa a heteronomia, assolando, assim, os processos democráticos que favorecem a inclusão e o avanço dos conhecimentos em nosso país (CHAUÍ, 2001; 2016). A partir da perspectiva etnográfica, as pesquisas sobre letramentos acadêmicos vêm se desenvolvendo sob diferentes aspectos, tais como: sua apropriação a partir das práticas sociais nas disciplinas, aprendizagens de modelos alternativos para aprendizagens dialógicas, a importância das trajetórias na construção das identidades, os eventos e práticas de letramentos acadêmicos e a repercussão dos letramentos digitais na leitura e escrita universitária (SITO; MORENO, 2021). Sobre a temática incluem-se no Grupo de Trabalho os debates que abordam a escrita acadêmica e as formas de valorização da produção científica brasileira no cenário atual, tendo em vista os desafios (antigos e atuais). Voltamo-nos à trabalhos que contemplem a construção de perfis docentes e discentes em cursos de graduação e pós-graduação, demandas e imposições pela escrita acadêmica como forma avaliativa em instituições e órgãos de fomento às pesquisas, adoção de novas tecnologias para a (re)produção de conhecimentos (sobretudo a partir de Inteligências Artificiais e periódicos eletrônicos), gêneros textuais utilizados na/para universidade, identidades mobilizadas na escrita e socialização acadêmica, atuação de mediadores da escrita acadêmica (pareceristas, orientadores e demais atores do processo de construção das identidades acadêmicas), relações entre a pós-graduação e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), dentre outros temas relacionados aos debates que favorecem a construção de letramentos acadêmicos.